O respeito do interlocutor é medido
pela capacidade de escuta. Quanto mais minuciosa é a atenção que é dedicada às
palavras que nos são dirigidas, mais o debate se torna diálogo. Atitude, esta,
que só se torna construtiva na medida em que é genuinamente recíproca.
A reportagem é de Giulia Galeotti, publicada no
jornal L'Osservatore Romano, 25-09-2013. A
tradução é de Moisés Sbardelotto.
Tempo atrás, Piergiorgio Odifreddi enviou a Bento XVI o seu livro Caro Papa, ti scrivo (Milão: Mondadori,
2011). E o papa emérito lhe respondeu com uma longa carta, que o jornal romano La Repubblica do dia 24 de setembro antecipa em
parte (pouco menos da metade), enquanto o texto integral será publicado na nova
edição do livro de Odifreddi.
Joseph Ratzinger se desculpa pelo intervalo de tempo decorrido entre a recepção do livro
e a sua réplica, datada de 30 de agosto de 2013 e endereçada à residência
turinense do cientista. Um intervalo de tempo certamente não imputável aos 698
quilômetros de distância entre o mosteiro no Vaticano e a casa do
matemático, no verde da cidade de Savoy, mas devido à
atenção que, entre os seus muitos compromissos, Bento XVI quis dedicar ao
volume.
Joseph Ratzinger é preciso e acurado. Na longa carta – que revela uma gentileza natural,
uma mão estendida não formalmente ao seu interlocutor –, Bento XVI vai direto ao ponto das páginas
lidas, dos traços de proximidade colhidos pelo cientista ateu e compartilhados
pelo papa teólogo, dos pequenos (e nem tão pequenos) erros presentes no texto,
detendo-se portanto – com a experiência que lhe é reconhecida até mesmo pelos
adversários – tanto nos pontos de encontro, quanto nas discrepâncias,
resumíveis, estas últimas, em uma tripartição.
Algumas delas são aceitáveis em uma
ótica de confronto entre posições que são, e continuam sendo, diferentes;
outras, não aceitáveis, por serem injuriosas (mesmo quando formuladas, com
habilidade, apenas como perguntas); outras, enfim, nada convincentes.
Tudo, porém, sempre em um tom de
autêntica busca de diálogo, no respeito e na estima pelo interlocutor. Em um
percurso que parte das Escrituras sagradas ao judaísmo e ao cristianismo,
atravessa a história, chegando até os dias, também sofridos, da Igreja de hoje,
não esquecendo nem os aspectos mais bonitos e fecundos, nem os mais mais
terríveis e escandalosos.
Piergiorgio Odifreddi contesta – rotulando-o como distinção já ultrapassada desde o distante
1968 em virtude da entrada em cena das inteligências artificiais – o fato de
que uma razão objetiva sempre precisa de um sujeito, uma razão, portanto,
consciente de si mesma. Pois bem, com precisão, Bento XVI rebate explicando
como, na realidade, é justamente (e também) a própria inteligência artificial
que demonstra o assunto, tratando-se de uma inteligência confiada a aparelhos e
transmitida a eles por sujeitos conscientes, isto é, atribuível à inteligência
humana daqueles que criaram os mesmos aparelhos.
Esse é apenas um dos muitos pontos
analisados na longa, rica, apaixonada e nítida carta de resposta por parte de
um homem que quer – e que, por toda a sua vida, sempre quis – um verdadeiro
diálogo entre a fé dos cristãos e a fé científica. Uma busca de diálogo
evidentemente captada pelo matemático italiano.
Além disso, lendo todo o texto do
papa emérito, fica claro como o seu interesse é autêntico, voltado a dialogar
até com aquela parte de mundo e de fé científica que, a bem ver, interrompe a
busca do confronto de maneira que acaba sendo dogmática, quase como se não
quisesse mais perguntar, mas somente amestrar o interlocutor.
Os muitos exemplos que poderiam ser trazidos à tona entre aqueles
apresentados por Bento XVI, porém, giram
inevitavelmente em torno daquilo que, para Joseph
Ratzinger, é o ponto central, que não pode ser ignorado, do diálogo entre a fé
chamada científica e a fé dos cristãos. É o aspecto da passagem dos lógoi ao Logos, uma passagem que
a fé cristã fez juntamente com a filosofia grega. Uma passagem que pode até não
ser feita, mas que deve, necessariamente, ser considerada e avaliada – de modo
científico, se deveria dizer – para que as partes em diálogo permanecem ambas
realmente em busca.
Na carta, também são evocadas a questão muito debatida dos
antropomorfismos – para a qual Bento XVI recorda a validade
permanente da afirmação do Concílio de Latrão IV de 1215 sobre a
possibilidade somente analógica de pensar Deus – e a questão incandescente da
evolução.
Bento XVI cita o Pseudo-Dionísio, o
Areopagita, e depois cita não só Francisco, Clara, Teresa de Ávila e Madre Teresa, mas também Agostinho, Martin Buber, Jacques Monod e a inspiração da
música de Bach, Mozart, Haydn,Beethoven. E, claramente, cita Piergiorgio Odifreddi.
Porque Ratzinger optou por responder
a um professor universitário italiano que, movido pela franqueza, buscou um
diálogo aberto com a fé da Igreja. Entre contrastes e convergências.
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