quarta-feira, 20 de novembro de 2013

''Caro Papa, caro Odifreddi'': um diálogo sobre a verdade e a fé

A carta é datada de 30 de agosto de 2013 e é assinada Bento XVI-Joseph Ratzinger. A mesma assinatura que o papa teólogo colocou na capa das suas obras, as sobre Jesus de Nazaré, nas quais convidou os estudiosos a contradizê-lo, em um espírito de pesquisa teológica e científica. O texto é em resposta a uma primeira carta que o "inveterado incrédulo" – como ele mesmo se define –Piergiorgio Odifreddi escreveu a Ratzinger justamente buscando no debate com ele não "honrarias formais, mas argumentos substanciais".
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 13-11-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A carta de Odifreddi foi escrita em 2011. Foi publicada em livro – Caro papa, ti scrivo – e enviada pelo autor a Bento XVI mediante o seu secretário Georg Gänswein. E quando Odifreddi, "além das razoáveis esperanças", recebeu do papa emérito uma resposta circunstanciada e profunda, foi necessário rever Caro papa, ti scrivo e publicar um novo volume, significativamente intitulado Caro Papa teologo. Caro matematico ateo. Dialogo tra fede e ragione, religione e scienza: "um unicum", escreve Odifreddi.
E continua: "Divididos em quase tudo, mas unidos por um objetivo: a busca da Verdade, com maiúscula. É essa verdade que os críticos do papa, e mais modestamente também os meus, rotulam como 'fundamentalismo': teológico, em um caso, científico, no outro. É essa Verdade que nós dois pensamos não só podermos encontrar, mas também já ter encontrado: um na religião e no cristianismo, o outro na matemática e na ciência. Um de nós se equivoca, cada um de nós crê que o outro é que se equivoca, e neste livro ambos buscamos explicar por quê".
A resposta de Ratzinger a Odifreddi diz mais coisas. Acima de tudo, mostra o verdadeiro rosto do homem da Igreja superficialmente demais definido como "panzerkardinal" nos tempos em que ele era prefeito do ex-Santo Ofício e como "papa conservador" assim que subiu ao sólio de Pedro.
Nada de mais falso. Na realidade, Ratzinger é um fino teólogo que, como o seu sucessor Francisco, busca o debate com todos, não crentes em primeiro lugar. Odifreddi, depois, toca na sua ferida dissertando principalmente sobre aquela Introdução ao cristianismo, que, segundo muitos, continua sendo uma das suas obras mais bem sucedidas.
Ratzinger a escreveu em 1968, tocando com força na sabedoria do seu mestre, o teólogo ítalo-alemão Romano Guardini, que, em 1938, tinha dedicada ao tema a esplêndida obra A essência do cristianismo.
Guardini foi um farol para Ratzinger, que dele também aprendeu a paixão pela escuta e pelo debate. Era nas colinas da Ilha Vicentina que Guardini, passando dias de férias em uma propriedade rural sua, meditava e recebia as visitas de ilustres personagens como o cardeal Angelo Giuseppe Roncalli, futuro Papa João XXIII, e o filósofo Giuseppe Faggin.
Dizia Guardini: "Quase todas as minhas ideias nasceram e amadureceram aqui, sob as árvores da ilha, entre as suas belas colinas e a vasta planície de vicentina". O mesmo espírito, a mesma paixão pelo estudo e pela pesquisa teológica que é própria do teólogo Ratzinger. Que, provavelmente no seu primeiro verão como papa emérito, no silêncio dos jardins de Castel Gandolfo antes, dos vaticanos depois, encontrou tempo para pegar papel e caneta e escrever ao "Ilustríssimo Senhor Professor Odifreddi..." uma carta profunda e "em parte dura".
Mas – escreve Ratzinger – "a franqueza faz parte do diálogo; só assim pode-se crescer no conhecimento". Odifreddisabe muito bem disso, ele que, não por acaso, na sua primeira carta, tinha "humildemente sugerido" ao papa: "Abaixem as suas defesas!". E tinha citado as palavras de João Paulo II: "Não tenham medo! Não tenham medo! Conhecerão a verdade, e a verdade os fará livres!".

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